quarta-feira, 30 de junho de 2010

O outro



A casa vazia mete um medo danado na gente. Você procura nos outros cÔmodos, chama e o eco do corredor parece maior, já que só você escuta. Os outros apartamentos parecem tão lotados e mais felizes do que o seu.

A comida não tem muita graça, a televisão é só para mudar os canais sem parar, o quarto é de uma imensidão terrível e a cama cresce a cada sono. A organização insistente dos objetos pede um irmão, pra ter com quem brigar, ao menos.

Solidão descontrola as coisas. O prumo está em acordar com o barulho da casa, chamar pra ficar junto, brigar para não lavar a louça, correr o dia inteiro e à noite encontrar alguém esperando no sofá.

Nem que sejam milhares as brigas e pazes, não nascemos para ficar desacompanhados. Nem que sejam dezenas os amores durante a vida, não nascemos para viver desacompanhados.

Quem vai esquentar nossos pés nos dias de chuva, abraçar o nosso corpo, desenhar sorrisos e lágrimas no nosso rosto pra que aprendamos a ser fortes, nos ensinar a caminhar em cada fase da vida, empurrar-nos para que aprendamos a voar sozinhos? QUEM?

São as nossas companhias que nos ensinam a viver. Para cada momento há uma delas que se encaixa perfeitamente. Para cada pontilhado há uma que pegue na nossa mão e nos ajude a cobrir para a letra ficar FIRME.

Gabriela Simões

terça-feira, 15 de junho de 2010

Faxina







Às vezes a alma também carece de uma rearrumação. Trocar as lembranças de lugar, tirar a poeira, varrer debaixo dos pés parados,vasculhar a cabeça, trocar as roupas e companhias... Tudo reflexo da nossa faxina de alma.

Quando nos damos conta de que chega uma nova fase devemos limpar-nos do que não nos serve mais e abrir as janelas-olhos e as portas-peitos pra que o ar renovado entre.

Comprar um caderno novo,muito branco, pra escrever os próximos capítulos; despir o corpo e abrir os braços pra aceitar quem estiver lá fora, quase cansando de esperar; mexer com tudo pra ser um novo-todo-completo, até quando a outra faxina vier.


Gabriela Simões

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Altar Particular




Meu bem,
que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular

Sei lá,
a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal

E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós

Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós

Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser

Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer

Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor

Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio
esperando a resposta ao que chamo de amor

(Maria Gadú)