terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Capitu




Na pele de Capitu,
dona de olhos oblíquos e dissimulados,
conquistaria os seus olhos negros
e os teria para sempre
a olhar para mim.

Você me admiraria tão devotamente
que mais nada nem ninguém importaria.
E todas as flores que me desse
serviriam suas pétalas
para acariciar o seu corpo.

Outro nem me despertaria desejo.
Não haveria Escobar ou qualquer outro.
Para mim só existiriam seus braços, abraços e sorrisos
a me encantar, fazendo minha mente dançar
por outros mundos.

Com o corpo de Capitu,
nenhum medo existiria para mim
e eu seria bem melhor.
Grande, a abaixar a cabeça
para ganhar o seu beijo.

E você trançaria meus cabelos
pra que eu viajasse lívida
ao sentir suas mãos
passearem pelos fios longos e desgrenhados.
Como eu queria ser Capitu!

Mas eu sou Gabriela.
Sem cravo, canela ou poder de sedução.
Sou Gabriela,
que só escreve e não fala nada.
Gabriela, Capitu não.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Às vezes eu vejo o Amor



No rítmo, sem mudanças repentinas, a segurança parecia ter aportado no seu cais. Era a sua vida um mar de águas mansas e azuis - porque ela pensava ser - e seus olhos estavam fechados para imperfeições. Era aquela arvorezinha em cima da pedra, rodeada por uma imensidão tranquila. Pensava enfim ter achado o caminho que procurava.

Num dia comum, o mar branqueou e se revoltou em volta da árvore pequena. Ondas imensas caiam e ganhavam cada vez mais força para derrubar o que ela acreditava ser concreto. Novamente chegou ao seu peito aquele amor que não havia acabado, estava só guardado na última gaveta, debaixo das caixas de música. Um sentir que ela observava todos os dias, porém deixava latejar, já que não era uma dor incômoda, apesar de constante, tornara-se suportável.

Complicado era porque ele falava tudo o que ela precisava ouvir. Foi só ele quem disse... O que parecia Shakespeare ou Buarque susurrando ao pé do ouvido... Sim! Ele falou lhe amar! E se pareciam tanto as músicas, os erros e as tristezas. E voltou para dizer-lhe que esperaria o tempo que fosse para continuar sua história, do ponto em que pararam.

E um medo se apossou da mente, tão acostumada a estar fincada ao chão. Ela parecia ter reaprendido a voar e ver como antes. Do chão, nunca se permitiu ver o laranja do sol se juntar e ao mesmo tempo ser sufocado pelo mar. Um medo extasiante, pois se sentia importante...

Ponderou, calou, pediu uma chance a si mesma para ser mais feliz. Ela não sabia o que fazer. Não! Não sabia! Mesmo escutando todas as suas músicas e relendo todos os seus papeis guardados. Acreditava que havia um sentimento real naquela situação sufocante e linda, mas nem é assim que se fazem as coisas, num de repente.

Então ela esperou que chegasse para buscá-la, esperou para ver se realmente aconteceria algo ou novamente pararia tudo pela metade. Esperou calada, parada, com os olhos vidrados nele.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Homem não chora


Homem não chora
Nem por dor
Nem por amor
E antes que eu me esqueça
Nunca me passou pela cabeça
Lhe pedir perdão
E só porque eu estou aqui
Ajoelhado no chão
Com o coração na mão
Não quer dizer
Que tudo mudou
Que o tempo parou
Que você ganhou

Meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora
Esse meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora

Homem não chora
Nem por ter
Nem por perder
Lágrimas são água
Caem do meu queixo
E secam sem tocar o chão
E só porque você me viu
Cair em contradição
Dormindo em sua mão
Não vai fazer
A chuva passar
O mundo ficar
No mesmo lugar

Meu rosto vermelho e molhado...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Duas tatuagens


Num bar escuro e lotado
Os dois procuravam distração.
Ela havia partido o coração,
Ele já estava muito cansado.
Não que ela também não estivesse.

Acharam um no outro
Uma saída fácil pra esquecer
A dor que crescia como monstro
Dentro dos peitos prontos para se aquecer.
E cada um que mais quisesse.

Música, mãos e quadris.
Olhos, bocas, codinomes.
Tudo o que ela nunca quis.
Naquela noite dois insones...
Nada que não se esquecesse.

A noite acabou rápido,
Dormiram tranquilos e sóbrios.
Ela olhou no espelho seu rosto pálido,
Ele recolheu-se com seu sorriso e vazio próprios.
Antes que a-manhã chegasse.

E depois caminharam separados,
Um em cada calçada.
Conseguiram livrar-se dos cansaços
Sem deixar marca visível tatuada...
Mas, olhando bem, a tatuagem era coisa que na alma se enxergasse.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Presente-ausente


De costas para o Sol

Pé...depois...pé

Sem pressa pra esperar.

O Céu é de um laranja-tarde.


Os cabelos do Mar cresceram até as pedras

Gota...depois...gota

Sem pressa de acinzentar.

O som é frio e oco e seco. Som de vento vazio.


De frente para a Lua

Calcanhar...depois...calcanhar

Com pressa de voar.

As costas são asas pequenas, pequeNINInhas.


As horas são lentas

Segundo...depois...segundo

Com pressa de voltar.

Os espíritos são dois: um presente e um AUSENTE.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

... ... ...


Vi uma folha amarela cair da árvore.
No momento exato fotografei com os olhos
A leveza daquele instante
Que não rima com coisa alguma
Dada a sua característica ímpar

Imaginei como seria se pudesse
Presenciar todos os momentos
Dos momentos que desejo ver.
E só pensava nos amores,
Nas paisagens, nas conquistas.

Quando mirei minha visão para o alto
Vi uns olhos brilhantes como as folhas ainda presas
E parecia ser que, mais desesperadamente,
Era eles que tinha vontade de acompanhar
A todo instante... A todo instante...

Imaginei se fosse possível
Deles nunca mais largar
E vi não haver como,
Pois meu olhar não tem nada de brilho,
O meu é escuro como o fundo de mim.